29.6.09

A Emigração de Talentos

Os sucessivos governos regionais investiram pouco nas pessoas. Ficaram apenas pelo betão. E isto não tem criado riqueza nas ilhas, de forma a catapultá-las para patamares mais elevados de desenvolvimento económico. Por que não basta equipamentos ou infra-estruturas, é preciso pessoas qualificadas para uma adequada dinamização empresarial.
Há centenas e centenas de jovens açorianos a estudar em diversas universidades do Continente que estarão “impedidos” de regressar aos Açores. Por que não terão emprego. Infelizmente!
E isto é um verdadeiro desperdício de talentos, depois da Região ter investido 12 anos na sua educação. O retorno do investimento na educação destes jovens é nulo para os Açores e será bem-vindo para outras economias, no exterior.
E não há emprego qualificado por várias razões.
Em primeiro lugar a economia regional não tem tido crescimentos económicos desejáveis, capaz de a modernizar e de criar emprego qualificado.
Depois assistiu-se a uma deslocalização dos centro de decisão das principais indústrias de lacticínios, ficando nos Açores apenas a componente produtiva. Perderam-se assim importantes postos de trabalho qualificados. O mesmo aconteceu à cimenteira regional e mais recentemente verificou-se a deslocalização no sector financeiro, com os bons empregos a irem para Lisboa. E assim a oferta de emprego qualificado reduziu-se.
Entretanto a agro-pecuária pelo contrário tem libertado mão-de-obra ao invés de criação de emprego. O turismo, por seu lado, baseado no modelo em vigor de hotelaria tradicional, cria emprego mas com baixas qualificações.
Por seu lado a administração regional e a administração local não dispõem de capacidade para aumento dos seus efectivos.
Assim a estes jovens universitários no Continente resta por lá ficarem. Não têm qualquer hipótese de desenvolverem uma carreira nas ilhas. Assiste-se assim a um novo tipo de emigração, a emigração de talentos, bem mais gravosa para a Região do que a outra onda emigratória, verificada no século XX, para a América do Norte.
E a demonstrar a incapacidade desta economia insular de criar emprego está a percentagem da população açoriana inactiva que continua a ser a mais elevada do país. Para isso, contribuem as mulheres, cuja taxa de inactividade ultrapassa os 64%. Entre os inactivos, 25% são domésticas, o que representa mais do dobro da média nacional.
E os activos açorianos têm, em média, a escolaridade mais baixa de Portugal. Sucessivos governos regionais esqueceram-se de facto das pessoas e da sua educação. E o resultado está à vista. 16 por cento dos beneficiários do fundo de desemprego tinha, em 2007, menos de 24 anos, o que representa o dobro da média nacional nesta faixa etária.
A criação de emprego para jovens não se verifica. E a debandada para outras paragens começa a verificar-se. E perdem-se assim importantes recursos humanos.

Portas da Berbéria

A Associação Portas do Mar, mais uma criada para “dar música e espectáculo” ao povo, vai promover de 27 de Maio a 10 de Junho o “Cenário Berbere”. Este evento vai constar de passeios de camelos (sim dos verdadeiros!) provas de chá, fumaças de cachimbo e espectáculos de dança de ventre. A Berbéria é uma região do Norte de África que vai ser “promovida” nas Portas do Mar por ser eventualmente um novo mercado de origem de turistas (irónico!) que poderão encher os hotéis de S. Miguel, desesperados por hóspedes. Será hilariante assistir à combinação camelo/betão nas Portas do Mar, quiçá agora Portas da Berbéria.
Para além deste “Cenário Berbere” segue-se outro evento o “Live Summer Fest”, que terá os britânicos “Paradise Lost” como cabeças-de-cartaz. O festival tem entrada gratuita, como sempre, e visa promover a Região Autónoma dos Açores a FEDRA (Federação de Doenças Raras em Portugal) e os artistas açorianos em geral, segundo a organização.
Para além do Paradise Lost vão actuar uma outra banda internacional, a “Every Need” e ainda uma outra, esta micaelense, os “Morbid Death”, e o grupo nacional a “Cinemuerte.
Segundo a organização, o festival, para além da vertente cultural e social, também pode ter alguma repercussão turística na ilha de São Miguel e nos Açores. Portanto das 4 bandas que vão actuar no festival, 3 são de fora naturalmente pagas a peso de ouro, e apenas uma é de S. Miguel. Como é que este festival vai promover a música açoriana não foi explicado.
Qual é o custo/benefício desta iniciativa, que consome dinheiros públicos, também não foi explicado pela organização. O seu custo é fácil imaginar: 3 bandas de fora, das quais 2 internacionais, cachés, seus transportes, alojamento e suas excentricidades custam muito caro. Nunca menos de 200.000 euros. E como as entradas são gratuitas, receitas não há. Pagam novamente os contribuintes, sem dó nem piedade.
Também não foi explicado o número de turistas que vem a S. Miguel de propósito para assistir a este evento. Meia dúzia, uma dezena, não se sabe!
Por favor não brinquem com o nosso dinheiro, proveniente do pagamento dos nossos impostos. Nem inventem justificações absurdas e ridículas para a folia.
“Cenário Berbere”, e “Live Summer Fest” são mais dois exemplos da irresponsabilidade de quem gere dinheiros públicos. Um verdadeiro desperdício de fundos, que tanta falta fazem a milhares e milhares de açorianos.

A Região do "faz de conta"

Segundo um estudo publicado no Boletim Económico da Primavera do Banco de Portugal, o país à beira-mar plantado tem 2 milhões de pobres, ou seja 1 em cada cinco portugueses é pobre, e destes pobres 300.000 são crianças.
Em termos regionais as taxas mais altas de pobreza são nos Açores, na Madeira e no Alentejo.
Afinal a Região do famoso “superavit”, das Portas do Mar, das SCUT, dos Abba Gold Erope e da Olga Roriz, dos espectáculo pirotécnicos, dos barcos inter-ilhas que transportam jovens a 1 euro, do Atlântida, do Anti-ciclone, do Expresso Santorini, do pleno emprego, dos milhões desperdiçados nos “futebóis”, dos campos sintéticos, das marinas, dos DJ,s e das bandas de fora, do Blasted Mechanism, dos complexos de piscinas, das Casas de Espectáculo, das inúmeras Empresas Municipais é um embuste. É uma Região do “faz de conta”. Por que afinal continua a ser uma região de pobres.
Um em cada cinco Açorianos afinal é pobre. São quase 50.000 açorianos que vivem abaixo do limiar da pobreza. E vivem com enormes dificuldades para satisfazerem as suas necessidades básicas: alimentação, vestuário, calçado e habitação. Para nem falar nas necessidades de educação e de cuidados de saúde.
A Região Autónoma dos Açores, passados 32 anos da sua autonomia constitucional, e depois dos milhões e milhões investidos (ou será gastos?), afinal não sai da cauda de Portugal e da União Europeia. Confrangedor!
E parece que esta Região tornou-se uma coutada de políticos irresponsáveis, niilistas e oportunistas. Políticos que se esqueceram das pessoas, especialmente dos 50.000 Açorianos mais necessitados. E esqueceram-se dos 80.000 açorianos que não têm médico de família e dos 4.300 doentes à espera de cirurgia no HDES, alguns há mais de 2 anos. E dos milhares de idosos que nas farmácias compram apenas parte dos medicamentos por falta de recursos financeiros. Políticos que estrangulam financeiramente as IPSS alegando falta de recursos, quando são estas que prestam um serviço relevante especialmente à infância e à terceira idade.
Uma Região onde a droga propaga-se por todo o lado, o alcoolismo não dá tréguas enquanto os políticos devaneiam e discutem inutilidades e enredos partidários na Assembleia, ou congeminam altercações partidárias pelos corredores das secretarias regionais ou mesmo deambulam planeando o foguetório nos paços dos vários concelho ou até divertem-se no Teatro Micaelense, no Coliseu e na Açores Arena, quiçá todos de pretensa consciência tranquila.
Estranhas prioridades têm estes políticos que não atendem às verdadeiras necessidades das pessoas. Que só perseguem obras e mais obras, muitas inúteis e faustosas, propagandeadas e “trabalhadas” por jornalistas avençados ou lacais de última hora.
Possivelmente a explicação está no Bloco Central de Interesses (BCI), bem caracterizado pelo ex-autarca do Porto Paulo Morais. O BCI é constituído por um conjunto de interesses que atravessa transversalmente a sociedade: políticos, governantes, autarcas, empreiteiros e especuladores imobiliários.
E ao que parece o BCI tomou conta destas ilhas e destes políticos. E que actuam para si e para uma elite que à sua volta gravita. Deixando milhares e milhares na pobreza. Triste sina esta!