9.7.09

"Rabo de Peixe Sabe Sonhar"

O Padre Jesuíta Paulo Teia fez um apelo, numa entrevista a um jornal local, à generosidade das pessoas para prosseguir com uma iniciativa que, desde há 5 anos, junta mais de duas centenas de crianças pobres e carenciadas de Rabo de Peixe numa colónia de férias em Agosto, denominada de “Rabo de Peixe Sabe Sonhar”. Refere ainda que precisa de um milagre para reunir os apoios financeiros para a iniciativa prosseguir este verão.
Este ano há 250 crianças inscritas e o custo é de cerca de 100€ para cada uma, perfazendo assim 25.000€. É quanto custa esta iniciativa que visa abrir horizontes e fazer com que as crianças possam ver que a realidade delas é circunstancial e que existe mundo para além de Rabo de Peixe.
Uma semana de esperança para muitas crianças de Rabo de Peixe poderá não se concretizar por uns míseros 25.000€. Simplesmente inaceitável, quiçá revoltante!
Bastava a Associação Portas do Mar não ter organizado a semana Berbere, com camelos, chá e cachimbos de água, e o financiamento desta colónia de férias estava garantido. Ou bastava cancelar o concerto de Quim Barreiros na Lagoa. Ou não mandar vir novamente o Quim Barreiro para o Nordeste.
Ou até não convidar a Rita Redshoes para o Campo de S. Francisco e aqui teríamos também 4 semanas de colónia de férias para estas crianças pobres e carenciadas.
Ou o Nordeste não mandar vir os Blasted Mechanism e o David Fonseca e daria não para 1 semana mas para 8 semanas de “Rabo de Peixe Sabe Sonhar”.
E se o ex-vocalista dos Supertramp não viesse a Ponta Delgada daria para 10 semanas das crianças de Rabo de Peixe.
Ou o Pedro Abrunhosa se não viesse à Ribeira Quente dava para financiar a colónia de férias também por 4 semanas. Ou até o João Pedro Pais se não viesse á Ribeira Grande daria para 4 semanas de “Rabo de Peixe Sabe Sonhar”. E a Rita Guerra e as Just Girls se não viessem às Grandes Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada pouparia o equivalente a 8 semanas de colónia de colónia de férias.
Enfim não se entende as prioridades dos nossos políticos: governantes e autarcas. Ao invés de apoiarem uma iniciativa social de grande interesse para 250 crianças preferem a festa e a borga com gente de fora e cachés graúdos, incompatíveis com o nosso nível de desenvolvimento. Promovem assim o divertimento desenfreado, a irresponsabilidade, o facilitismo e o niilismo, à mistura com muito álcool e droga, sobretudo junto dos jovens, que andam de concerto em concerto num frenesim preocupante.
Os contribuintes açorianos, se tivessem uma palavra a dizer sobre isto, iriam preferir apoiar a colónia dos jesuítas em vez do esbanjamento de fundos provenientes dos seus impostos em “pão e circo” sem qualquer mais-valia económica. Indubitavelmente!
De facto os nossos políticos estão desfasados da realidade por que passam as famílias e as empresas açorianas, com enormes dificuldades para sobreviverem à profunda crise económica que nos bateu à porta. Vivem num reino de ilusão, e querem à força arrastar todos os demais açorianos para esta política de irresponsabilidade.
Não venham depois estes mesmos políticos dizer que o povo é estúpido em não votar e assim optar por engrossar a abstenção. Nem ameaçar com o voto obrigatório. Devem é sim alterar o seu comportamento e ter bom-senso e uma noção clara das prioridades, pondo em primeiro lugar as sociais e só depois o divertimento e a festa. Só assim é que podem sair do descrédito em que se encontram.
E como Fernando Sobral referia recentemente no Jornal de Negócios “a má qualidade da democracia corresponde à má qualidade dos políticos”.

29.6.09

A Emigração de Talentos

Os sucessivos governos regionais investiram pouco nas pessoas. Ficaram apenas pelo betão. E isto não tem criado riqueza nas ilhas, de forma a catapultá-las para patamares mais elevados de desenvolvimento económico. Por que não basta equipamentos ou infra-estruturas, é preciso pessoas qualificadas para uma adequada dinamização empresarial.
Há centenas e centenas de jovens açorianos a estudar em diversas universidades do Continente que estarão “impedidos” de regressar aos Açores. Por que não terão emprego. Infelizmente!
E isto é um verdadeiro desperdício de talentos, depois da Região ter investido 12 anos na sua educação. O retorno do investimento na educação destes jovens é nulo para os Açores e será bem-vindo para outras economias, no exterior.
E não há emprego qualificado por várias razões.
Em primeiro lugar a economia regional não tem tido crescimentos económicos desejáveis, capaz de a modernizar e de criar emprego qualificado.
Depois assistiu-se a uma deslocalização dos centro de decisão das principais indústrias de lacticínios, ficando nos Açores apenas a componente produtiva. Perderam-se assim importantes postos de trabalho qualificados. O mesmo aconteceu à cimenteira regional e mais recentemente verificou-se a deslocalização no sector financeiro, com os bons empregos a irem para Lisboa. E assim a oferta de emprego qualificado reduziu-se.
Entretanto a agro-pecuária pelo contrário tem libertado mão-de-obra ao invés de criação de emprego. O turismo, por seu lado, baseado no modelo em vigor de hotelaria tradicional, cria emprego mas com baixas qualificações.
Por seu lado a administração regional e a administração local não dispõem de capacidade para aumento dos seus efectivos.
Assim a estes jovens universitários no Continente resta por lá ficarem. Não têm qualquer hipótese de desenvolverem uma carreira nas ilhas. Assiste-se assim a um novo tipo de emigração, a emigração de talentos, bem mais gravosa para a Região do que a outra onda emigratória, verificada no século XX, para a América do Norte.
E a demonstrar a incapacidade desta economia insular de criar emprego está a percentagem da população açoriana inactiva que continua a ser a mais elevada do país. Para isso, contribuem as mulheres, cuja taxa de inactividade ultrapassa os 64%. Entre os inactivos, 25% são domésticas, o que representa mais do dobro da média nacional.
E os activos açorianos têm, em média, a escolaridade mais baixa de Portugal. Sucessivos governos regionais esqueceram-se de facto das pessoas e da sua educação. E o resultado está à vista. 16 por cento dos beneficiários do fundo de desemprego tinha, em 2007, menos de 24 anos, o que representa o dobro da média nacional nesta faixa etária.
A criação de emprego para jovens não se verifica. E a debandada para outras paragens começa a verificar-se. E perdem-se assim importantes recursos humanos.

Portas da Berbéria

A Associação Portas do Mar, mais uma criada para “dar música e espectáculo” ao povo, vai promover de 27 de Maio a 10 de Junho o “Cenário Berbere”. Este evento vai constar de passeios de camelos (sim dos verdadeiros!) provas de chá, fumaças de cachimbo e espectáculos de dança de ventre. A Berbéria é uma região do Norte de África que vai ser “promovida” nas Portas do Mar por ser eventualmente um novo mercado de origem de turistas (irónico!) que poderão encher os hotéis de S. Miguel, desesperados por hóspedes. Será hilariante assistir à combinação camelo/betão nas Portas do Mar, quiçá agora Portas da Berbéria.
Para além deste “Cenário Berbere” segue-se outro evento o “Live Summer Fest”, que terá os britânicos “Paradise Lost” como cabeças-de-cartaz. O festival tem entrada gratuita, como sempre, e visa promover a Região Autónoma dos Açores a FEDRA (Federação de Doenças Raras em Portugal) e os artistas açorianos em geral, segundo a organização.
Para além do Paradise Lost vão actuar uma outra banda internacional, a “Every Need” e ainda uma outra, esta micaelense, os “Morbid Death”, e o grupo nacional a “Cinemuerte.
Segundo a organização, o festival, para além da vertente cultural e social, também pode ter alguma repercussão turística na ilha de São Miguel e nos Açores. Portanto das 4 bandas que vão actuar no festival, 3 são de fora naturalmente pagas a peso de ouro, e apenas uma é de S. Miguel. Como é que este festival vai promover a música açoriana não foi explicado.
Qual é o custo/benefício desta iniciativa, que consome dinheiros públicos, também não foi explicado pela organização. O seu custo é fácil imaginar: 3 bandas de fora, das quais 2 internacionais, cachés, seus transportes, alojamento e suas excentricidades custam muito caro. Nunca menos de 200.000 euros. E como as entradas são gratuitas, receitas não há. Pagam novamente os contribuintes, sem dó nem piedade.
Também não foi explicado o número de turistas que vem a S. Miguel de propósito para assistir a este evento. Meia dúzia, uma dezena, não se sabe!
Por favor não brinquem com o nosso dinheiro, proveniente do pagamento dos nossos impostos. Nem inventem justificações absurdas e ridículas para a folia.
“Cenário Berbere”, e “Live Summer Fest” são mais dois exemplos da irresponsabilidade de quem gere dinheiros públicos. Um verdadeiro desperdício de fundos, que tanta falta fazem a milhares e milhares de açorianos.

A Região do "faz de conta"

Segundo um estudo publicado no Boletim Económico da Primavera do Banco de Portugal, o país à beira-mar plantado tem 2 milhões de pobres, ou seja 1 em cada cinco portugueses é pobre, e destes pobres 300.000 são crianças.
Em termos regionais as taxas mais altas de pobreza são nos Açores, na Madeira e no Alentejo.
Afinal a Região do famoso “superavit”, das Portas do Mar, das SCUT, dos Abba Gold Erope e da Olga Roriz, dos espectáculo pirotécnicos, dos barcos inter-ilhas que transportam jovens a 1 euro, do Atlântida, do Anti-ciclone, do Expresso Santorini, do pleno emprego, dos milhões desperdiçados nos “futebóis”, dos campos sintéticos, das marinas, dos DJ,s e das bandas de fora, do Blasted Mechanism, dos complexos de piscinas, das Casas de Espectáculo, das inúmeras Empresas Municipais é um embuste. É uma Região do “faz de conta”. Por que afinal continua a ser uma região de pobres.
Um em cada cinco Açorianos afinal é pobre. São quase 50.000 açorianos que vivem abaixo do limiar da pobreza. E vivem com enormes dificuldades para satisfazerem as suas necessidades básicas: alimentação, vestuário, calçado e habitação. Para nem falar nas necessidades de educação e de cuidados de saúde.
A Região Autónoma dos Açores, passados 32 anos da sua autonomia constitucional, e depois dos milhões e milhões investidos (ou será gastos?), afinal não sai da cauda de Portugal e da União Europeia. Confrangedor!
E parece que esta Região tornou-se uma coutada de políticos irresponsáveis, niilistas e oportunistas. Políticos que se esqueceram das pessoas, especialmente dos 50.000 Açorianos mais necessitados. E esqueceram-se dos 80.000 açorianos que não têm médico de família e dos 4.300 doentes à espera de cirurgia no HDES, alguns há mais de 2 anos. E dos milhares de idosos que nas farmácias compram apenas parte dos medicamentos por falta de recursos financeiros. Políticos que estrangulam financeiramente as IPSS alegando falta de recursos, quando são estas que prestam um serviço relevante especialmente à infância e à terceira idade.
Uma Região onde a droga propaga-se por todo o lado, o alcoolismo não dá tréguas enquanto os políticos devaneiam e discutem inutilidades e enredos partidários na Assembleia, ou congeminam altercações partidárias pelos corredores das secretarias regionais ou mesmo deambulam planeando o foguetório nos paços dos vários concelho ou até divertem-se no Teatro Micaelense, no Coliseu e na Açores Arena, quiçá todos de pretensa consciência tranquila.
Estranhas prioridades têm estes políticos que não atendem às verdadeiras necessidades das pessoas. Que só perseguem obras e mais obras, muitas inúteis e faustosas, propagandeadas e “trabalhadas” por jornalistas avençados ou lacais de última hora.
Possivelmente a explicação está no Bloco Central de Interesses (BCI), bem caracterizado pelo ex-autarca do Porto Paulo Morais. O BCI é constituído por um conjunto de interesses que atravessa transversalmente a sociedade: políticos, governantes, autarcas, empreiteiros e especuladores imobiliários.
E ao que parece o BCI tomou conta destas ilhas e destes políticos. E que actuam para si e para uma elite que à sua volta gravita. Deixando milhares e milhares na pobreza. Triste sina esta!

22.3.07

Álcool e drogas

O alcoolismo e o consumo de drogas ilícitas estão a corroer a nossa sociedade, mormente o segmento dos jovens. E infelizmente há muita gente que não quer ver o que se passa à sua volta, por absurdos interesses político-partidários, alheamento, indiferença ou mesmo apatia social.
Já o estudo do Instituto da Droga e Toxicodependência, realizado em 2001, havia indicado um problema grave de drogas nas escolas dos Açores. Neste estudo a Região Autónoma dos Açores apresentava dos piores resultados do país. De facto um em cada 5 jovens, de idade entre 14 e 16 anos, tinha tido já experiências de consumo de drogas. Isto é 19% dos jovens inquiridos. A média nacional rondava os 14%. Os Açores, segundo este estudo, estavam já no topo nacional no consumo de drogas em ambiente escolar.
Mais recentemente um inquérito realizado por 3 alunas do 12º. ano da Escola das Laranjeiras, e referente a alunos que frequentam o Ensino Secundário em Ponta Delgada, apresenta conclusões preocupantes: um em cada 20 adolescentes consome frequentemente drogas; 32% consome ocasionalmente; 32% já experimentou; e 70% dos não consumidores já assistiu ao consumo no estabelecimento de ensino.
A semana passada um semanário micaelense apresentava em título: “Droga a olho nu em escolas de Ponta Delgada”. E referia que os alunos são aliciados para o consumo de estupefacientes no interior das escolas, uma situação que não é alheia aos conselhos executivos e auxiliares.
Recentemente um encarregado de educação denunciava o consumo de drogas na escola das Laranjeiras, à vista de todos, e criticava o conselho directivo de nada fazer.
O médico João Vidal, director clínico da Casa de Saúde de S. Miguel considera o alcoolismo “um dos maiores problemas de saúde pública dos Açores” e criticava a falta de um Plano Regional de Prevenção do álcool e estimava cerca de 26 mil alcoólicos nestas ilhas, mais de 10% da sua população.
Ainda esta semana o referido médico dizia que a Casa de Saúde não tinha meios para lidar com as inúmeras situações que lá chegam, de alcoólicos e de toxicodependentes, à procura da cura.
O sociólogo Alberto Peixoto recentemente confirmou o excessivo e preocupante consumo de álcool no seu livro Dependências e Outras Violência. E a situação era grave particularmente nos concelhos das Lajes do Pico, das Velas, da Calheta de S. Jorge, e de Ponta Delgada, no que respeita à prevalência de consumo de bebidas alcoólicas.
E afirmou, no lançamento do livro, que “o álcool é a dependência mais grave”, e que “90% das pessoas que já praticaram algum tipo de violências ingerem álcool”. Só este dado, referiu o sociólogo, é por si revelador que o álcool é a droga que mais prejuízos, a nível pessoal, comunitário e material, traz.
Por seu lado o secretário regional dos assuntos sociais considera o alcoolismo “grave e preocupante fenómeno social, comunitário e de saúde pública”.
O diagnóstico está mais do que feito. E é grave e preocupante. As medidas para combater estas verdadeiras chagas sociais não surgem: nem do governo, nem das autarquias, e nem da sociedade civil. Todos assobiam para o lado, descaradamente.
Continuamos a viver numa Região do “faz de conta”, onde pulula uma plêiade de irresponsáveis, mormente em lugares públicos, que permite tal desgraçada situação, que anda a dar cabo dos nossos jovens e de muitas famílias.
Não é por acaso que os Açores ocupam o terceiro lugar em termos de violência doméstica no País. São cerca de mil crimes denunciados anualmente, para uma população pouco superior a 240 mil habitantes. E que fruto disto há 530 crianças e jovens institucionalizadas em cerca de 40 instituições e muitas centenas já sinalizadas, mas a aguardar vaga. É altura de reagir e agir. Com medidas claras, adequadas e corajosas para inverter esta preocupante tendência. Sem tibiezas e sem comprometimentos

6.3.07

A Verdade numa Região de Mentira

Afinal a Região das Portas do Mar faraónicas, das badaladas estradas SCUT até ao Nordeste, dos concertos íntimos, dos bailes brancos, das violas e brasileiras, das piscinas olímpicas e dos centros de estágios irrealistas, dos pavilhões multi-usos cheios de nada, do McDonald,s como sinal de modernidade, dos parques temáticos injustificáveis, do hilariante superavit , das dezenas de equipas em provas nacionais com jogadores de fora, das inúmeras EP,s (empresas públicas), das variadas EM,s (empresas municipais) e dos milhares e milhares de subsídios á medida, não passa de um grande logro.
Esta mesma Região, apesar dos milhões e milhões que estão a entrar, como nunca visto, não consegue criar riqueza e até diverge com a União Europeia (UE). O Eurostat confirma que os Açores divergiram, nos últimos 2 anos conhecidos, em relação à UE, já com a Roménia e a Bulgária. O PIB per capita passou de 71,3% da média da UE em 2002, para 66,9% em 2003, para depois baixar novamente em 2004 para 65,9%. A RAA continua assim na cauda das RUP (Regiões Ultraperiféricas) e ainda a 9 pontos percentuais da média do país. A verdade é esta, agora reconfirmada pelo Eurostat.
E a situação socio-económica destas populações periféricas ainda revela uma conjuntura bem pior, mesmo preocupante.
Cerca de 17.500 açorianos, 7,2% da população, recebe o Rendimento Social de Inserção, uma percentagem sem qualquer comparação a nível do país.
Quase 80.000 açorianos não têm ainda médico de família.
5.144 pacientes aguardam e desesperam por uma cirurgia só no HDES, que pode demorar até 2 anos.
Os Açores são a região do país com a taxa de mortalidade infantil mais elevada ( 6,3 mortes por mil nascimentos).
As escolas da Região registam um número de retenções superior à média nacional, em especial no primeiro ciclo do ensino básico.
Há cerca de 530 crianças e jovens, provenientes de ambiente familiares problemáticos, acolhidas nos 40 lares e centros de atendimento temporário.
As crianças e jovens em risco nos Açores representam a pior situação do país, fruto da negligência, do abandono escolar e dos maus tratos físicos e psicológicos que grassa pelas conhecidas bolsas de miséria, mormente nas ilhas maiores.
Os Açores foram responsáveis por 6,2% dos casos de crianças vítimas de crime no primeiro semestre de 2006. Uma percentagem elevadíssima, tendo em conta a sua população.
Os Açores ocupam o terceiro lugar em termos de violência doméstica no País. São cerca de mil crimes denunciados anualmente, para uma população pouco superior a 240 mil habitantes.
Ao contrário da tendência nacional a criminalidade está a subir nos Açores.
Há cerca de 26.000 alcoólicos nas ilhas, mais de 10% da população. E nem existe um Plano Regional de Prevenção do Álcool. Antes pelo contrário assiste-se a iniciativas de autarquias e do governo de promoção do álcool e da criação de condições para o aumento do consumo. O alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde pública dos Açores.
Todos os meses são apresentados 12 novos processos de crimes contra idosos nos Açores. A maioria dos casos é referente a burlas e furtos. Mas também existem situações de maus-tratos psicológicos com origem na própria família.
O Banco Alimentar Contra a Fome de São Miguel recolheu e distribuiu alimentos no ano passado para cerca de 2.600 famílias que passavam fome em S. Miguel.
Portanto o bem-estar socio-económico que se apregoa nas ilhas tem muito de virtual e não corresponde à verdade. É um “faz de conta” resultante de uma massiva e propaganda, desenvolvida por uma máquina política que tudo domina e tudo controla.
Esta é seguramente uma Região de mentira.

McBairro: um novo conceito urbanístico-comercial

Um novo conceito urbanístico-comercial foi introduzido nos Açores. Trata-se do McBairro! E aparentemente é um conceito simples, um verdadeiro ovo de Colombo. Que revela elevada criatividade e alguma permissividade! Só foi criado e implementado em Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel, por agora. Contudo trata-se de um conceito que pode ter uma expansão internacional junto dos países sub-desenvolvidos de África, Ásia e naturalmente América Latina. É a globalização dos Açores, com a mais que certa exportação deste conceito.
O processo é simples mas dura alguns anos. Primeiro é licenciado um bairro para moradias, que são construídas com muito empenho e esforço financeiro. Depois licencia-se na cave de uma destas moradia um ginásio que concentra muitas viaturas e que aborrecem os moradores. Felizmente o próprio mercado acabou por o encerrar. De seguida, no meio das moradias uni-familiares, licencia-se uns prédios de apartamentos. E depois quando está tudo construído em termos de moradias e apartamentos, e toda a gente vive em paz e sossego, licencia-se um estabelecimento de fast-food, o McDonald,s, com um serviço de comida entregue na viatura, o denominado McDrive. E aí está o conceito urbanístico-económico do McBairro. Muito simples!
E o projecto âncora do McBairro, o McDonald,s, foi construído numa nesga de terreno, onde nada se podia construir inicialmente, e acabou por ter um projecto aprovado apenas para habitação. Mas de um momento para o outro, e em linguagem popular, troca-se as voltas, e instala-se um estabelecimento de fast-food. E o estabelecimento “convive” muito mal com as moradias que, em alguns casos, estão a 10 metros. Fantástico e inovador!
E depois de uma inauguração apoteótica onde os nossos governantes e autarcas teceram frenéticas loas ao McDonald,s, chegando ao ridículo de considerar a abertura do estabelecimento um sinal de desenvolvimento, numa atitude terceiro-mundista, surge os efeitos do projecto: falta de estacionamento, acessibilidade insuficiente e inadequada, e odores por todo o bairro juntamente com poluição sonora e ambiental.
E é este o novo conceito urbanístico-comercial que tem merecido muitas visitas dos autarcas de Ponta Delgada. Ao que parece para se inteirarem do bom funcionamento do projecto desenvolvido, até parece, numa espécie de parceria público-privada.
De referir que o conceito também envolve as forças de segurança. O estabelecimento tem de fazer uma avença com a PSP para patrulhar as redondezas contra os “maus” automobilistas, o que contribui também para financiar este serviço da República. E o percurso, em fila lenta, para o McDrive é uma verdadeira prova de perícia para os automobilistas, com curvas e contracurvas, a fazer inveja aos circuitos das escolas de condução.
O entusiasmo é tanto junto das populações citadinas que corre já a notícia de que outros bairros querem aderir ao conceito.
O Calço da Furna é um dos primeiros candidatos, aproveitando um jardim público existente numa praça local. Também os Bairros Novos manifestaram o seu interesse no projecto.
Mas, ao que parece, terá prioridade o bairro que estiver mais próximo de uma escola. Sim, porque é um ponto crucial para o sucesso empresarial do McBairro. Estar junto de uma escola, e melhor se secundária, para que os alunos possam beneficiar desta alimentação equilibrada e saudável, rica em proteínas e calorias. E assim rivalizar com a pouco saborosa e detestada comida confeccionada nas cantinas das escola.
Mas no fundo, a base de tudo isto está num conceito estético que há muito havia desaparecido da nossa sociedade: gordura é formosura. Este conceito parece querer renascer das cinzas, com o apoio entusiástico de governantes e autarcas. O aparecimento de uma oferta de serviços de médicos endocrinologistas, nutricionistas , bem como muitos espaços de fitness e wellness parece também reforçar de novo este conceito. Que gera obesidade quantas vezes mórbida, e muitos diabéticos, quase já a atingir os 20.000 nos Açores. E que precisam de ser tratados no nosso Sistema Regional de Saúde, que se defronta felizmente com um situação financeira superavitária.
O McBairro, tudo indica, é uma criação do bloco central de interesses.